terça-feira, 7 de junho de 2011

Limbo Musical: Rock progressivo - Capítulo III

Limbo Musical: Rock progressivo - Capítulo III Os anos dourados do rock progressivo

Não dá pra afirmar com certeza qual foi o ano, a banda, o disco, ou a música que deram o pontapé incial ao rock progressivo, quanto mais definir qual banda moldou o estilo que conhecemos hoje. Além do que o rock progressivo engloba um número enorme de sub-estilos, o rock sinfônico, o folk progressivo/folk rock, o hard rock progressivo, o neo-progressivo, o krautrock, a cena de canterbury, o r.i.o. (rock in opposition), a cena italiana da década de setenta, etc.
Tudo isso dificulta e muito analisarmos de modo linear o rock progressivo. Por isso irei me abster a mostrar o apogeu desse rico mundo musical.

Todos sabem que a banda mais popular de rock progressivo é, e provavelmente sempre será, o Pink Floyd. Não só a mais popular, como a comercialmente mais bem sucedida. Em 1970 o Pink Floyd lançou "Atom Heart Mother", que viria a ser um marco na mudança de sonoridade da banda. Ainda havia psicodelia do Piper at the gates of dawn, e o experimentalismo do Ummagumma, entretanto a sonoridade era muito mais coesa, mais equilibrada e muito bem calculada. O fato de uma orquestra participar das gravações foi um fator importante para determinar uma sonoridade peculiar ao disco, diferente das coisas anteriores lançadas pelo Pink Floyd.

Seu disco mais bem sucedido foi "Dark side of the Moon", lançado após o progressivissimo "Meddle", que contém "Echoes", a suíte que iria caracterizar a sonoridade do Pink Floyd dali adiante. DSOTM marcou a banda por dois motivos, o já mencionado sucesso comercial, ficando por mais de 14 anos na Top 200 da billboards. O outro fator marcante desse disco é a simplificação do som do Pink Floyd. Não confundam "simplificação" com "Porquisse" ou "som mal feito" ou "Menos trabalhado". Quero dizer que não haviam aquelas suítes enormes de vinte minutos, entretanto havia uma continuidade da sonoridade da faixa Echoes, um som hipnótico, suave, melódico e sofisticado.

Enquanto o Pink Floyd fazia seu rock progressivo, também chamado de space rock por alguns, devido ao alto uso de sintetizadores e sonoridades "hipnóticas" (melhor termo que consegui achar para definir a sonoridade do Pink Floyd), aspectos semelhantes aos da banda Hawkwind, que essa sim, era chamada mais comumente de space rock, outras bandas davam enfâse a uma sonoridade mais complexa e abrangente.

Genesis e Yes ficaram sendo conhecidas como duas das mais pomposas bandas da Inglaterra.
A mistura de música clássica, jazz e elementos do rock pesado faziam essas bandas serem influências para 90% de todas as outras bandas de rock progressivo que vieram depois.

Os discos, "Tresspass", "Nursery Crime", "Foxtrot" e "Selling England By The Pound" do Genesis e "Fragile", "Close to the Edge", "Relayer" e "Tales from the Topographic Oceans" do Yes, são algumas das obras de rock progressivo mais marcantes e elaboradas da década de setenta feitas na Inglaterra. Músicas de mais de vinte minutos, orquestrações, arranjos complexos e letras ora filosóficas, ora instrospectivas, ora fantasiosas, faziam tudo soar grandioso e inusitado.

Esse estilo Pomposo e épico foi bem explorado por outras duas bandas.
Emerson Lake and Palmer (mega conjunto formado por Keith Emerson, do The Nice, Greg Lake do King Crimson e Carl Palmer do Atomic Rooster) e Triumvirat. Muitas vezes essas bandas são comparadas pela sonoridade parecida, muitos teclados e influência de jazz e música erudita.
Acontece o seguinte, ambas as bandas não possuem guitarrista (ao menos em 90% de suas músicas não há guitarras). Isso cria uma visão errada de que Triumvirat é uma cópia germânica de ELP. O fato é que as duas bandas abusam da complexidade sonora, assim como Genesis e Yes, contudo, elas se diferenciam por serem muitas vezes mais "pesadas" ou "agressivas" que as bandas como Yes e Genesis. Você não irá ouvir nenhum som realmente pesado, como uma banda de Thrash metal por exemplo, mas com certeza a sonoridade de ELP é mais rispida e "bruta" que a do Yes, no geral.

Existem outras bandas muito importantes para abordarmos, mas irei me conter e falar apenas de mais cinco. King Crimson, Gentle Giant, Van Der Graaf Generator, Camel e Jethro Tull.

King Crimson talvez foi a mais "louca" e "estranha" banda de rock progressivo jamais vista na Inglaterra.Formada e "liderada" pelo eximio guitarrista Robert Fripp e pelo baterista Michael Giles, King Crimson talvez tenha definido o que viria a ser rock progressivo definitivamente.
Seu primeiro disco "In the Court of the crimson King" foi um marco, a mudança de sonoridade do psicodelismo para o progressivo foi evidente. Uma sonoridade menos "viajada" e mais "épica", desculpem esses conceitos, mas é como eu consigo explicar melhor o que quero dizer.
Sem contar que ela foi uma das bandas que influenciaria diretamente a criação do Metal progressivo do fim dos anos oitenta, com seu disco "Larks Tongues in Aspic", com muitos riffs pesadissimos e variações instrumentais pertinentes ao metal progressivo.

O Van Der Graaf Generator é uma das bandas citadas aqui que eu menos conheço, mas contraditoriamente é uma das que mais ouvi. Conheço apenas os discos "Still Life", "The Least we can do is weave to each other" e "Pawn Hearts", e o que mais ouvi deles foi o "Pawn Hearts", que considero uma das melhores obras já lançadas no rock progressivo. Um disco obscuro, com sonoridade variada, cheio de pianos, instrumentos de sopro e guitarras, tanto "limpas", quanto "sujas". Não tem muito o que falar de Van Der Graaf Generator, assim como desse disco maravilhoso que é "Pawn Hearts". Ouçam e confiram. Destaque para a faixa de mais de vinte minutos "A Plague of Lighthouse keepers".

Gentle Giant por sua vez não era uma banda musicalmente tão agressiva quanto o King crimson, nem tão "louca" em suas experimentações, entretanto foi uma das mais sofisticadas e complexas bandas de rock progressivo. Usarei uma frase que li na revista superinteressante para definir o Gentle Giant (praticamente a mesma frase que eles usaram): O gentle giant muitas vezes se assemelha a uma banda de outro planeta tocando música de câmara. Os álbuns Octopus e Acquiring the taste sejam talvez os discos que mais definem o som da banda.

O Camel entretanto não tinha o experimentalismo excentrico do King Crimson, nem a pompa sofisticada do Gentle Giant. Contudo eles eram uma banda redonda. Talvez a mais redonda e harmoniosa banda de rock progressivo inglês. O trabalho instrumental melódico, porém com um nível de peso adequado ao rock progressivo, com riffs e solos de guitarra perfeitos, teclados criando um clima ótimo para a música e dosando os solos com as guitarras e uma cozinha sem ter o que botar defeito. Podemos dizer que o Camel é um resumo das bandas de rock progressivo, com qualidades diferenciais também, por exemplo, uma das únicas bandas que lançou um disco instrumental que conta uma história, Snowgoose. Esse disco mostra elementos de hard rock e jazz em suas estruturas, além do bom e velho rock progressivo tradicional, se é que podemos dizer isso! Contudo a única coisa que não brilha no Camel é são as vocalizações/vocais. Mas não é nada que estrague o som, eles são bons, entretanto outras bandas são melhores nessa área especifica. Gentle Giant por exemplo.
E não sei se o nome da banda foi inspirado no cigarro Camel, entretanto existe o álbum "Mirage" (considero um dos melhores deles) que tem a capa identica ao rótulo do cigarro, só que em forma de miragem.

O Jethro Tull por sua vez é uma banda que permaneceu singular e longe de comparações com qualquer outra. Talvez pelo fato do Jethro Tull ter sido uma banda folk, com influências de blues e jazz que virou rock progressivo. Essa transação se deu de maneira lenta durante os primeiros discos da banda, mudando abruptamente a partir de 1972.
Até 1971 o folk e o jazz eram os elementos principais do som do Jethro Tull. "Stand Up", "This was" e "Benefit" mostram claramente isso, uma evolução progressiva e lenta. "Aqualung" foi um disco que marcou algumas mudanças caracteristicas na banda. Mais mudanças de tempo nas músicas, mais misturas de instrumentos e músicas mais longas. Em 1972 o lançamento de "Thick as a Brick" foi uma mudança total na sonoridade e modo de composição do Jethro Tull. ao invés das habituais nove ou dez faixas, apenas uma faixa. Duas partes, cada uma com mais ou menos vinte minutos. Sem muitas passagens acústicas como nos álbuns anteriores e muitas mudanças de tempo e variações ritimicas no disco.
Jethro Tull foi uma das bandas que mais se diferenciou nessa época e mesmo nesses álbuns mais progressivos, como "Thick as a brick", "Ministrel in the Gallery" ou "A Passion Play", mostraram-se originais e fieís a suas raízes folk.

Dezenas de bandas surgiram em outros países além da Inglaterra. As cenas mais ricas são com certeza as da Alemanha e Itália. Mas também podemos destacar Japão, EUA, Brasil e Canadá como expoentes do rock progressivo. Só que eu deixarei para o próximo capítulo dessa saga progressiva.

Ainda temos muito o que ver... e olha que eu estou sendo superficial...

Tópicos que ainda vou explorar:

- Progressivo fora da Inglaterra
- Metal Progressivo e Neo-Progressivo
- R.I.O., Cantebury, Krautrock e outras cenas diferentes
- Conceito e definições de rock progressivo
- Bandas que não são de rock progressivo, mas que fazem rock progressivo

Existem outras coisas a ser abordadas.

Limbo Musical: Rock progressivo

Rock Progressivo - Capítulo II: Da psicodélica ao período clássico.

Depois que bandas como The Beatles, The Who e Rolling Stones, começaram a fazer experimentos musicais, seja com instrumentos indianos, instrumentos de sopro e outros diferenciados do rock and roll, colagens musicais, efeitos inusitados, inversão musical (os famosos "backmasking", que muitas vezes continham até mesmo mensagens subliminares), entre outros elementos estranhos ao rock mais clássico, a musicalidade mudou. Não bastava apenas fazer música por diversão. Era tudo cultura, ou contra-cultura, dependendo do ponto de vista.

Durante essa época surgiram várias bandas que romperam com a estética padrão da arte.
Os nomes mais destacados desse período, que ficou conhecido como psicodelismo, foram The Doors, Velvet Underground, Pink Floyd, Jefferson Airplane, Ten Years After, os próprios Beatles entre outros. Numa época em que o "flower power" (a moda hippie e toda a cultura de paz e amor) estava em alta, um som "viajado", com letras ácidas, filosóficas, abstratas e instrumentais que iam do blues ao experimental, mostrando forte influência de drogas alucinógenas, como lsd, era uma forma de tentar expandir a mente dos músicos.

Essas bandas ainda não praticavam o rock progressivo como o definimos hoje, entretanto para tudo existe um princípio, e esse período de rock psicodélico, também muitas vezes chamado de proto-prog, é o cerne do que viria a ser o derradeiro rock progressivo da década de setenta.

Fica difícil definir quando o rock progressivo passou a ser progressivo por definição, assim como é difícil identificar qual foi o disco ou banda que originou o heavy metal, ou qual foi o primeiro disco de rock progressivo, como já foi abordado aqui no blog. O que acontece são divergências de opiniões e diferentes conceitos sobre o que é música progressiva. Entretanto, há esse período de transição do psicodélico para o progressivo, e a banda que mais se destaca foi o Pink Floyd. Justamente por ser a banda mais popular de prog rock de todos os tempos, será usada como modelo para muitas idéias a partir de agora.

Vejam só, o primeiro disco do P.Floyd, "The Piper at the gates of dawn", lançado em 1967, quase juntinho com o superestimado "Sgt.Peppers" do The Beatles, e com o subestimado "Days of a future past" do Moody Blues.
Psicodelia pura. Nem dá pra dizer que esse disco do Pink Floyd é rock progressivo (principalmente se comparado a sonoridade adotada pela banda alguns anos depois). Mas de qualquer maneira é um disco de rock progressivo. Psicodélico sim, progressivo, possivelmente. Acontece que na época, Syd Barrett, vocal e guitarra, era o principal compositor e "líder" da banda. Sua personalidade singular e seu alto uso de alucinógenos, influenciava diretamente a banda. Quando ele largou o grupo e David Gilmour assumiu seu papel, o grupo redirecionou sua sonoridade progressivamente, mudando suas estruturas musicais diretamente para Gilmour e Roger Waters (vocal e baixo).

Mas será que foi apenas a mudança de guitarrista que mudou o direcionamento musical da banda? Provavelmente foi um fator marcante, porém existem outras questões, como introsamento dos músicos, novas formas de pensar, novas influências, novo cenário musical, enfim.

Outra banda que teve papel importante nesse período transitório é o The Nice.
Uma banda que não teve tanto destaque quanto outras, mas que revelaria um dos maiores nomes do rock progressivo, Keith Emerson, que alguns anos depois fundaria o mega grupo, Emerson Lake and Palmer.
The Nice foi um grupo britânico que fez a transição do piscodelismo proto-prog para o rock progressivo de modo natural e perfeito.

Enfim, esse capítulo poderia até render mais algumas linhas, entretanto irei me abster por enquanto, guardando mais informações para o terceiro capítulo.

Próximo capítulo: Rock progressivo: Capítulo III: Os anos dourados do rock progressivo